sábado, 24 de setembro de 2011

A Nova Cultura de Lagarto II

Lagarto, de ruas e esquinas caninas que flagram pequenas surpresas diárias. É a roupa no varal, o desfile nas praças, o barulho dos carros e das carroças... E no final da página, o nome do poeta. E são tantos e vários: Alessandro Silva, César de Quitéria, Noeme Dias, Luiz Marcel, George "Vaca Magra", César de Oliveira, Fábio de Oliveira... Os nomes acabam se emaranhando em um novelo de versos, confundindo as gerações. Este último, o Fábio, publicou recentemente o livro de contos "Da insensibilidade e seus afluentes", bastante aplaudido pelos lagartenses. São autores que rabiscam seu nome nessas plagas, apontando novas edições, novas versões e novos capítulos, como bem fizeram seus antecessores mais famosos.
Fábio e outros amantes da literatura também fundaram o "Tecendo a Manhã", um movimento que homenageia os grandes autores por meio de saraus, provando mais uma vez a vocação lagartense pelas letras, em especial pela poesia. Perto dali há o "Louvor Sertanejo", grupo formado por jovens do Alto da Boa Vista, entre eles o já citado César de Oliveira, com uma proposta artística que mistura folclore, teatro, música, religião e literatura. Um verdadeiro mosaico cultural levado ao povo.
Nos últimos anos tem crescido o número de movimentos artísticos por aqui. Além daqueles já mencionados, há ainda o "Nova Camarilha" e o "Ajuntatudo". Ambos realizados pela juventude da cidade, que repete à força o lema "faça você mesmo". E eles fazem! O "Ajuntatudo", como sugere o próprio nome, traz um pequeno panorama da produção cultural lagartense, forjada quase sempre no underground. São poetas de beco e bar, canções improvisadas, cenas que escapam ao cotidiano, tornando-se extraordinárias. Afonso Augusto bem sabe disso. Ele é um dos organizadores desse show cultural, além de músico e poeta. A própria ASCLA - Associação Cultural de Lagarto, desativada há algum tempo, ensaia seu ressurgimento em reuniões entusiasmadas. A cidade cresce sob "uma chuva de querosene..."
Nossa música tem sido pauta em outros mundos, desde o Lacertae que trouxe para essas bandas um som original e rústico - como trilha sonora de um Lagarto que espreita a vida entre os corredores secos do sertão. A banda tem mais de 10 anos e continua em atividade, seja na produção de novas músicas ou na gerência de projetos culturais. Novos nomes vêm surgindo, não para substituir, mas para ampliar esse palco nosso... Ai, que saudades do FLAMP - Festival Lagartense de Música Popular!
Lagarto tem mais! E para ver é só conferir as telas de gente como Altair Andrade e Eviselma Vieira - esta que herdou do pai, Evilázio Vieira, o talento para as artes plásticas. Tem Rogério Bonifácio, cartunizando os diários lagartenses, sempre com muito bom-humor e talento. Seus traços vão além da sátira e também contornam um acervo sério, de personalidade artística. Se colocar movimento e uma trilha sonora vira filme. E aqui também andam a captar o mundo num plano audiovisiual, a exemplo dos projetos "Cinema nos Bairros" e "Cinema na Roça", ou dos olhares angulares de Gabriel Lyber e Zaninho Urashima - criaturas da geração vídeo.
Há aqueles que preferem a discrição, como Kiko Monteiro, um perfeito artista de variedades, com passagem pelo circo, teatro e rádio. É também competente pesquisador do cangaço. Seu bog http://lampiaoaceso.blogspot.com/ é bastante respeitado entre os admiradores do tema. Não satisfeito, ainda divide os vocais da banda Los Guaranis.
Outros são mais espalhafatosos, de roupa colorida e sapatos exagerados. Assim é Pilambeta, nosso palhaço - sempre com um sorriso aberto para animar o dia e driblar as incoveniências da vida. Assim é o "Grupo de Teatro 7 Panos", a mais nova trupe da cidade e parente da Cia Cobras e Lagartos. Porque nosso palco é bem maior!
Mas o que seria de toda essa produção, esse verdadeiro caçuá de peças artísticas, sem os agitados/ produtores culturais. Pessoas que falam alto - e sabem o que estão falando. Conhecedores das trilhas administrativas e do gosto da arte. Falo de Angélica Amorim, do já citado Afonso Augusto, de Anderson Ribeiro (que hoje está em Brasília), de Ítalo e Danilo Duarte, Laelson Correia... Pessoas prontas a levar essa marca - Lagarto- para todos os lugares, em todos os formatos, que não dispensam uma boa crítica nem boas companhias. Provocadores. Verdadeiros lagartenses, sem ufanismos baratos.
Que venham outros Sílvios Romeros! Lagarto tem muito mais para mostrar, além das festas bovinas e caquéticas oligarquias políticas. Tropeçamos ainda nos buracos do calçamento e nas bifurcações das vias, mas seguimos como um bando meio desajeitado a procura do nosso tempo. Agora! Ah, essa gente que pede maniçoba para comer de garfo e faca e corre da chuva para não desmachar o penteado... Assim é Lagarto!